segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Carta

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A cada mensagem, lá se vai mais um bocadinho da minha dignidade!! Que raio também, logo tinham que inventar tal coisa, dignidade, mas o que é isso? Ah e tal, não sei, mas diz que é giro…
A minha está bem lá no fundo, é só o que eu sei, mas antes queria não saber.
Comecei a perde-la, vai fazer quatro anos, tudo por um toque. Que raio de brincadeira mais infantil, toques para o telemóvel de pessoas que nem conhecemos, ou que conhecemos mas essas mesmas pessoas não nos conhecem a nós. Mas depois dão o nosso número a outras pessoas que nós não conhecemos e que também não nos conhecem a nós, e acaba por ser uma grande confusão de “nós” e de pessoas.
Há nós que são difíceis de desatar e este é um deles.
Toque para aqui, toque para ali, mensagem para aqui, mensagem para ali, e mal dei por mim estava perdida num mar de palavras sem significado, de mentiras e de desilusões.
Há histórias que nunca se esquecem, e esta por mais anos que viva nunca vou esquecer, isso é certo…
No cenário da tua vida aclamas noites alucinantes,
De gentes estonteantes que são tanto como tu.
No teatro do teu olhar há quem note que a coragem
Não passa de uma miragem com preguiça de gritar.
No repetir do teu mostrar inventas-te uma história
De que em ti não há memória,
Porque sabes que não é tua (…).
Continuas a ensaiar a conveniência de um sorriso,
O planear do improviso que te faz sentir maior.
No artifício dos teus gestos pensas abraçar o mundo,
Quando nem por um segundo te abraças a ti mesmo.
E assim vais vivendo,
E assim andando ai,
E assim perdendo em ti
Tudo aquilo que nunca foste.
Houve alguém que te conheceu,
Que te faz tremer ao passar,
Porque nunca a deixas-te de amar.
O poema retrata um mentiroso, que dizia ser muito mais do que aquilo que na verdade é, só houve uma pessoa que o conheceu realmente e que ele nunca deixou de amar.
A história que vou contar passa um pouco por isto, conheci alguém que mentiu, inventou para si próprio um personagem, alguém que nunca foi. Não sei se alguém o conheceu tal e qual como é, se essa pessoa existe não sou eu, mas tal como no poema espero que ele nunca a deixe de amar.

Era na Páscoa, de um ano que já não me recordo, as aulas estavam quase a começar e não havia nada para fazer, entre tardes passadas com a A.M., numa surgiu a brincadeira dos toques, o raio da brincadeira dos toque, mal sabia eu que a brincadeira dos toques me ia arrastar para isto.
Lembro-me exactamente daquilo que a A.M. disse, ao vasculhar a lista telefónica do meu telemóvel:
“M., quem é este M.?”
“É o irmão do B.” disse-lhe eu.
“Ai é? Tão vou mandar um toque!”
“Ai vais? Tão eu também mando.” Que raio de gaiata influenciável que me sai, também, mas só sei dizer que á pala desta personalidade de merda senti o gosto do mel, mas com sabor a fel!!
O M. não nos conhecia, e é claro que deu o nosso numero aos amigos para descobrir quem éramos, ou para gozar um bocado com a nossa cara. O que não deixou de ser engraçado, até ao momento em que eu, na minha “inocência” e não fazendo ideia que havia sido o M. a dar o nosso numero aos amigos, comecei a trocar mensagens com um deles.
Tinha sido tudo óptimo, não fosse chegar mesmo a conhecer a dita pessoa, e não fosse a pessoa já ter inventado toda uma história para a tal personagem que queria representar.
Mais mensagens, um beijo, uma tarde em que nos envolvemos, os dois, no mar de lençóis que era a cama dele, mais uma tarde, outra e outra, a A.M., eles os dois, um beijo numa qualquer rua de uma cidade á qual chamava minha, lágrimas, muitas lágrimas, medo, incerteza, rancor, ódio, tristeza, desilusão, dor, dor, dor, solidão…mais lágrimas, mas apesar de tudo AMOR. Apesar de tudo o D. não me saia da cabeça.
A história dele e da A.M. não durou muito, ela gostava de dar umas facadazinhas na relação deles, e acho que o D. sentiu a cabeça muito pesada.
Alguns meses volvidos, mais mensagens, mas o medo e a desconfiança impediram-me de me envolver, pelo menos fisicamente.
Mais meses passados, de novo mensagens, um beijo, medo, dor, desejo, desconfiança, medo, medo, medo…
Passaram quase dois anos, de mensagens, de silêncios, sem envolvimentos…mas dois anos, é muito tempo. O corpo pedia chuva e mais uma vez um beijo e outro, uma manha passada numa qualquer cama, de uma casa que ás vezes, queria não reconhecer. Mas não podia durar, ele já tinha alguém…lágrimas, dor, dor, dor, memórias, recordações, fantasias tediosas…
Mais dois anos de mensagens e silêncios, e agora vejo-me de novo envolta num labirinto do qual não sei sair.
Nunca soube, á quatro anos que vaguei-o num labirinto, já estive perto de achar a saída, mas o perto foi longe.
Quando me envolvi de novo com o D. era para lhe dar uma lição, para lhe mostrar que eu faço aquilo que quero, com quem quero, quando quero, que ele não tem nada a ver com a minha vida e que nas minhas mãos ele não era mais que um objecto, um objecto sexual talvez.
Mas parece que as coisas não correram como eu queria, estes quatro anos de lembranças pregaram-me uma partida e eu vi-me de novo no centro do labirinto.
Dou por mim a arranjar desculpas para mim mesma, para me deixar envolver por este protótipo de relação, que nunca passará daquilo que sempre foi, nada.
Não me arrependo de nada do que fiz, aliás tudo o que fiz, fez de mim aquilo que sou hoje.
Desde há quatro anos atrás que todos os dias penso numa mesma pessoa, acredito que um dia, assim sem me aperceber sequer vou deixar de pensar nele, tudo aquilo que vivi, tudo aquilo que senti não vai passar de uma doce recordação, que me vai assaltar quando menos esperar por uma qualquer razão desconhecida.