segunda-feira, 12 de março de 2007

Capitulo I

Que dia !!Como é que eu vou sair de casa com esta chuva toda? - Perguntava-se Ana que ao acordar e olhar pela janela se havia deparado com um cenário de chuva quase torrencial- Não é normal, bolas só estamos em Setembro!As segundas-feiras eram o pior dia da semana, e quer fizesse chuva ou sol a Ana acordava sempre de mau humor e só acalmava depois de tomar um bom banho, ver algumas pessoas e dar dois dedos de conversa.Mas, naquele dia, estava mais irritada do que é habitual, não sabia bem porque, mas uma das principais razões talvez se devesse ao facto de fazer tudo para impressionar o Mário mas mesmo assim, nada resultar. Já quase nem valia a pena o esforço.Para a Ana o Mário era muito especial, embora não ilustrasse, de todo, aquilo que ela mais apreciava fisicamente num homem, por dentro ele era simplesmente maravilhoso, disso não havia qualquer duvida. Havia muito tempo que ela o tinha colocado em cima de um pedestal que tendia cada vez mais a cair.O Mário e a Ana eram licenciados em relações Publicas e Publicidade, estudaram juntos e foram estagiar para a mesma empresa, foi lá que conseguiram o primeiro emprego, a Ana como relações publicas de um dos hotéis da empresa e o Mário como publicitário e mais tarde director de publicidade. Como a cede da empresa ficava no Algarve e nenhum deles era de lá decidiram alugar uma casa juntos para partilhar as despesas. Ao fim de algum tempo de trabalho conseguiram comprar, cada um, a sua casa, e por coincidência, ou talvez não, moravam os dois, num prédio mesmo em frente ao mar, no mesmo andar, em casas frente a frente.Meses depois mudava-se para o ultimo apartamento vago desse andar um grande amigo da Ana e recentemente também amigo do Mário já que ela fazia muito gosto em que os dois se conhecessem, e assim lá cresceu a amizade depois de uma bela tarde de conversa acompanhada de chá e bolinhos no apartamento da Ana.O Daniel trabalhava na mesma empresa dos dois, mas desempenhava funções de designer.A amizade entre os três fortalecia-se a cada momento e sempre que estavam todos juntos reinavam a alegria o companheirismo mas acima de tudo a amizade e o respeito, eram como três gémeos, daqueles que fazem tudo juntos, iam para o trabalho juntos; iam para casa juntos; saiam, á noite juntos; nas sextas-feiras até jantavam juntos na casa uns dos outros e um deles cozinhava para os outros dois.E assim iam vivendo uma existência simples e muito feliz... - Bom dia Ana, dá cá um beijinho! Olha, estávamos mesmo á tua espera para decidir em que carro vamos, mas entretanto, e como estavas a demorar o Daniel foi buscar o guarda-chuva e deve estar mesmo a vir ai.- Bom dia Mário!- Pronto, já percebi que estás irritada! Ninguém se pode aproximar de ti de manhã! Que susceptível.- Susceptível? Eu digo-te quem é que é susceptível e se não te calas ainda te digo onde é que podes ir ... e acredita que não vais gostar nada.- Bom dia, bom dia! Mas o que é que vem a ser isto? A discutir logo de manhã? Vocês os dois andam impossíveis. – O Daniel saiu de casa mesmo a tempo de acabar com mais uma das discussões entre a Ana e o Mário.O Daniel sempre havia sido um grande amigo da Ana e ela tinha aprendido a confiar plenamente nele, ela sabia que lhe podia contar tudo que da boca dele nunca saia nada. Depois de ele vir para o Algarve a amizade deles tinha-se reforçado e agora eram os melhores amigos, eram praticamente como irmãos, e ele ainda tinha a capacidade de acalmar a Ana, o que era sempre muito útil.Naquela manhã mais uma vez foi o Daniel quem conseguiu restituir a calma á Ana e depois de acalmados os ânimos lá foram os três para o trabalho.O dia decorreu com normalidade, aliás como todos os outros, mas ao voltar para casa o Dani, como a Ana carinhosamente lhe chamava, tinha uma grande novidade para dar aos amigos:- Pessoal, tenho uma coisa para vos contar!! È uma coisa muito importante e tenho a certeza que vão ficar muito contentes...O Mário começou a suspeitar da conversa do amigo e como lhe parecia conhecer o assunto da conversa não hesitou em meter a sua colherada:- Não me digas que conseguis-te finalmente engatar a Susana da administração??- Eh pá... não sejas parvo eu não a engatei, eu gosto dela e conseguimos entender-nos e eu estou muitíssimo feliz, por isso vê lá se não te armas em engraçadinho que eu vou leva-la a jantar lá a casa para vos conhecer... – deteve-se por instantes a olha para a Ana que ainda não tinha pronunciado uma palavra desde que ele começara a falar – Aninhas? Não dizes nada? Não estás contente?A Ana Permanecia calada, e assim foi o resto do caminho apesar das insistências do Dani. Foi então que quando chegaram a casa, e depois de parado o carro em segurança no parque de estacionamento subterrâneo do prédio, que explodiu:- Parece que afinal não és assim tão meu amigo como pensava! – Disse a Ana calmamente apesar de lhe correrem as lagrimas a cara abaixo – Eu confio em ti e conto-te sempre tudo, mas pelos vistos tu não confias em mim o suficiente para me contar que estás apaixonado. Bolas eu pensava que confiavas em mim, mas enganei-me não foi? Há, mas no Mário tu confias, o facto de me conheceres á mais tempo nem conta para ti nem nada... estou farta de vocês os dois é o que é... sempre a conspirar nas minhas costas. Ultimamente sempre que me aproximo de vocês acabam logo a conversa para eu não ouvir nem saber sobre o que é que estão a falar... – soluçou por instantes mas continuou – olha espero que sejas muito feliz e tenham um bom jantar. - e não aguentando mais desatou a chorar.O Daniel que não suportava ver a amiga chorar e já um pouco irritado com a birra disse por fim:- Nana, pára com isso! Não achas que isto tudo é desnecessário – parou por momentos e num gesto de carinho abraçou-a e depositou-lhe um ruidoso beijo na face molhada pelas lagrimas – Sabes bem que eu confio em ti plenamente, mas eu não queria contar nada a ninguém para não dar azar. Não queria que ninguém soubesse nada até eu ter falado com a Susana e ter percebido se ela sentia o mesmo por mim. Mas eu estava a sentir-me mesmo muito inseguro e precisava de alguns conselhos de homem e por isso fui falar com o Mário. Se calhar foi um erro não te ter contado, mas na altura nem pensei muito nisso. Desculpa fofinha. Não te zangues comigo... e logo quero-te linda para o jantar.A Ana parecia acalmar a cada palavra que ele dizia, mas ele sentia-se cada vez pior e cada vez mais culpado. Ela tinha razão, eram os melhores amigos e conheciam-se havia anos, ele sempre confiara nela plenamente, mas a verdade é que na altura nem sequer pensou em contar-lhe, ele só queria era que a Susana o amasse também, e estava tão concentrado em tentar falar com ela que nem pensou que podia magoar a Ana se não lhe contasse uma coisa tão intima como aquela.Perdidos em pensamentos, lá subiram os três aos respectivos apartamentos para se prepararem para o jantar. A felicidade que a Ana sentia pelo facto de o amigo se ter apaixonado e por ser correspondido era evidente no seu rosto. A Susana não era das pessoas que a Ana conhecia melhor, apenas se tinham cruzado uma ou duas vezes nos corredores da empresa, mas se fazia o Dani tão feliz só podia ser alguém muito especial e de certeza que era boa pessoa. Mas ainda havia uma coisa que incomodava a Ana e era o facto de o Daniel não lhe ter contado que estava apaixonado, o que é que teria feito com que ele não confiasse nela? Qualquer que fosse o motivo devia ser muito forte e não ia ser ela a questioná-lo, por isso, resolveu esquecer o assunto, até porque, não queria ser ela a criar mau ambiente no jantar e muito menos estraga-lo, ela sabia que aquele jantar era muito importante para o amigo.Assim que chegaram aos respectivos apartamentos a Ana correu á casa de banho, estava decidida a pôr-se o mais bonita e bem disposta possível, e para isso o primeiro passo era tomar um banho...Depois de uma hora e meia de volta do espelho, estava finalmente pronta, há mas ainda faltava um pormenor, o perfume, ia utilizar o preferido do Mário, e depois de algumas gotas daquela essência maravilhosa lá saiu de casa. Foi quando se deteve por momentos a olhar para o relógio que se apercebeu que estava mesmo em cima da hora, mas pelos vistos não era a única, quando se virou para fechar a sua porta ouviu a porta do Mário a abrir-se e virou-se para ele, queria meter-se com ele e dizer-lhe que já estava atrasado, mas quando ia abrir a boca, voltou a fecha-la rapidamente. O Mário estava muitíssimo giro, á muito tempo que não o via assim, nem sequer conseguia compreender porque é que o estava a achar tão diferente, já o tinha visto montes de vezes com a mesma roupa, mas naquele instante pareceu-lhe absolutamente maravilhoso. O que é que se passava? Estaria a apaixonar-se cada vez mais pelo Mário sem se dar conta? Não podia ser, já tinha sofrido tanto por causa dele, não podia, simplesmente não podia deixar que o seu coração fosse mais forte, tinha que combater o sentimento com todas as forças que tinha. Mas uma veiazinha de ciúmes já lhe começava a rebentar e desatou logo a dizer, quase inconscientemente:- Bem, Bem! Vejam só! Tanta produção...Não me digas que também trouxesste a namorada para jantar? Não melhor, isso é tudo para a Susana?? Devias ter vergonha, Mário. Ela é a namorado do teu melhor amigo.- Oh Ana não sejas parva, achas que alguma vez eu ia tentar engatar a miúda do Daniel? Queria era ter trazido uma miúda mas não foi preciso convidá-la. Entramos?Aquela resposta irritou a Ana profundamente, além de não a ter percebido muito bem, o Mário também não tinha respondido á provocação e isso era algo que acontecia cada vez com mais frequência. Houve um tempo em que estavam sempre a mandar bocas um ao outro mas infelizmente esse tempo já fazia parte do passado, e com ele tinha desaparecido qualquer tipo de interesse que o Mário podia ter tido pela Ana, ela sabia-o, mas apesar disso ia tentar conquista-lo por uma ultima vez. Se não conseguisse desistia dele para sempre.- Olá... Miúda?? Estás a ouvir o que te estou a dizer?- Impacientava-se o Mário que queria entrar em casa do Daniel, mas a Ana não parecia dar sinais de estar o ouvi-lo, mas de repente:- Sim estou a ouvir, vá vamos entrar. E vê lá se não me chames miúda, sabes perfeitamente que eu odeio...- dito isto abriram a porta e entraram no apartamento do Daniel onde já eram esperados por uma deliciosa refeição e pelo novo casalinho, que trocava olhares apaixonados na sala. A noite foi muito agradável, e por entre as conversas transpareceu a simpatia que tanto a Ana como o Mário sentiram imediatamente pela Susana, foi possível perceber também a felicidade do Daniel que não parava de sorrir.Foi então por volta da uma da manhã que a Ana e o Mário se decidiram a sair do apartamento e deixa-los a sós:- Mário!! Não tenho sono! – aquela conversa trazia agua no bico pressentia-o Mário.- Mau, fofinha!! Não me digas que andas outra vez com medo de dormir sozinha. Queres que vá dormir para o teu sofá? – Quando queria, o Mário consegui ser um amor. Desde que tinha ido ambos para o Algarve ele sempre fizera questão de proteger, tal como uma filha, a Ana. E apesar de o sofá lhe partir as costas, tinha lá dormido inúmeras noites, porque desde que se mudaram para a casa nova e ficaram os dois sozinhos a Ana tinha dificuldades em dormir e acordava muitas vezes durante a noite com pesadelos.- Não Mário, não é isso. Queria ir passear na praia...há e não quero que voltes a dormir naquele sofá, aquilo parte-te as costas todas. Podemos ir?? Vá, não digas que não, tu tinhas prometido levar-me a passear quando eu quisesse, lembras-te? – Quando a Ana pedia tão insistentemente era quase impossível resistir-lhe e dizer que não. Ela tinha um jeitinho muito especial de pedir as coisas e conseguia quase sempre aquilo que queria.- Está bem Nana, vamos lá.Apesar de ter chovido o dia inteiro, estava uma noite fabulosa, as estrelas brilhavam e a lua estava cheia, o que por cima do mar negro fazia um efeito espectacular. A noite não estava fria e por isso descalçaram-se ambos e foram caminha na areia molhada mesmo juntinho ao rebentar das ondas.- Sabes Mário, desde os nosso tempos de faculdade que eu sou completamente apaixonado por ti. Mas tu pelo contrario, nunca me ligas-te nenhuma. Acho que perdi a conta ás noites em que adormecia a chorar porque tu não gostavas de mim como eu de ti. – Era a ultima tentativa que a Ana ia fazer para conquistar o coração de Mário mas pela cara que ele fizera ao ouvir estas palavras parecia ser mais uma tentativa condenada ao insucesso.- Ana! – Gemeu o Mário um tanto ou quanto desesperado para lhe dizer qualquer coisa que teimava em não sair. Mas ou ver a expressão de desespero na cara dele a Ana apressou-se a atalhar:- Tudo bem, tem calma...- Mas Ana... – interrompeu-a ele, uma vez mais tentando arrancar algo, das profundezas do seu ser, algo que guardava havia muito tempo, mas que mais uma vez teimava em não querer ser desenterrado.- Mário, não faz mal, já percebi que nunca vais ser capaz de sentir aquilo que eu sinto por ti. E eu, não posso, nem quero obrigar-te a sentir algo. O que eu quero mesmo, do fundo do coração, acredita, é que tu sejas muito feliz. E se não consegues encontrar a felicidade junto de mim, não posso fazer nada. Quanto a mim, não te preocupes, eu cá me arranjo, tenho a certeza, que um dia vou encontrar alguém tão maravilhoso como tu que me faça feliz...E dita esta frase a Ana desatou a correr pela praia, o Mário ainda estático, e preso ao chão, devido ao que acabara de ouvir, foi incapaz de se mover ficando apenas a contemplar a amiga a afastar-se. De repente ela deteve-se por momentos, voltou-se para trás e disse:- Amo-te, Mário- desatou a correr e não voltou a parar até chegar a casa, talvez por medo, por dor, ou por despeito talvez, não sabia, só queria dormir, dormir, dormir...

0 observações sobre as parvidades que escrevo!: