quarta-feira, 18 de abril de 2007

Um caso de vida ou morte

0 observações sobre as parvidades que escrevo!
Num país onde se comemora todos os anos o 25 de Abril, a extrema-direita ainda tem uma posição bastante vincada na vida politica e social de todos nós. Exemplos disso são atitudes como a do Partido Nacional Renovador (PNR).
Depois de correr tanta tinta, por causa dos outdoors do PNR e dos Gato, eu não podia deixar de me juntar á festa.
Gostava de fazer uma perguntinha aos senhores do PNR, Quem é que construiu as casas onde vivem?
Tenho pena de dizer isto, mas o Português, não quer um trabalho, quer um emprego, de preferência, um emprego bastante bem pago, e onde possa passar o dia inteiro a coçar a micose (desculpem a grosseria), é então que aparece o Emigrante, ele vem para Portugal fazer aquilo que o Português não quer fazer.
Não estou a criticar ninguém, atenção! Como boa portuguesa que sou, também não vou ficar contente com um emprego nas caixas do Modelo, quando posso arranjar outro emprego.
A verdade e que os Emigrantes nos fazem falta, e já nem sabemos viver sem eles!

Nana

terça-feira, 10 de abril de 2007

A pedido de muitas famílias, Capitulo I – Continuação

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Ao outro dia, quando a Ana acordou, sentia-se como se um camião lhe tivesse passado por cima. Tinha uma dor tão forte no coração que só lhe apetecia morrer, afinal aquele amor de tantos anos tinha conhecido o seu derradeiro final.
Ao longo de anos, a Ana não perdeu a esperança de conquistar o amor do Mário, mas a noite passada tinha apagado todas as ilusões que ela tinha em relação a isso, e tinha dado lugar á dor, á dor insuportável.
Mas a vida continuava e também ela tinha que fazer um esforço e continuar, sem duvida era necessário continuar, e então, de repente, com uma força vinda das profundezas do seu ser, levantou-se para ir trabalhar.
Tomou o pequeno-almoço, tomou banho, vestiu-se, e estava pronta para sair quando alguém tocou á sua campainha. Surpreendida lá abriu a porta e surpreendeu-se ainda mais quando percebeu que era o Mário quem tinha tocado.
- Bolas, eu já ia sair, não era preciso teres tocado. Mas o que é que se passa, nem sequer estamos atrasados e o Daniel também ainda não saiu. – Disse a Ana de imediato.
- O Daniel já foi para a empresa. Eu disse para ele ir sem nos, porque queria falar contigo a sós…
- Está bem mas falamos depois, agora temos que ir trabalhar. – Interrompeu-o a Ana.
- Era o que eu ia explicar se não me tivesses interrompido. Eu telefonei para a empresa e disse que nos os dois não íamos de manhã. – Concluiu o Mário.
- Fizeste o que? Eu não acredito, não sei se já reparas-te, mas eu levantei-me cedo para ir trabalhar porque só por acaso o dinheiro não cai do céu e eu preciso de trabalhar para comer, para pagar a prestação da casa e por ai fora. Por isso o que quer que tenhas para falar comigo pode esperar até logo á noite quando eu não tiver que trabalhar. – E dirigiu-se para a porta dizendo ainda – Quando saíres fecha a porta está bem.
Mas o Mário agarrou-lhe o braço e disse:
- Ana por favor, desde que começamos a trabalhar nem tu nem eu tivemos um dia de férias, por isso, não vai ser só por uma manhã que o gato vai ás filhós. Vai para a sala e senta-te que eu vou fazer um chá e buscar umas bolachas para nós. Não digas que não por favor. Precisamos mesmo de falar.
Dito isto a Ana lá acedeu e foi sentar-se, ao fim de alguns minutos o Mário juntou-se a ela e começou:
- A noite de ontem foi um pouco estranha, não vou dizer que não sabia o que sentias, mas não estava á espera que o dissesse daquela maneira… – Mas a Ana interrompeu-o
- Á é por causa disso que querias tanto falar comigo. Oh Mário, esquece o que aconteceu ontem á noite, a sério, esquece que eu também já esqueci. Faz de conta que não aconteceu nada. A sério não te moas com isso.
- Mas eu não quero esquecer. – Retorquiu o Mário, para surpresa da Ana.
- Mário, não há stress, amigos como dantes a sério, não estou chateada, nem magoada, nem nada do que se pareça…
-Mas… – Tentou interromper o Mário.
- Espera deixa-me acabar. – Pediu, a Ana. – Tu sabes que uma paixão sem frutos não dura para sempre, e já há muito tempo que o que eu sinto por ti, não tem a mesma intensidade de antes. E ontem á noite…ontem á noite não passou de um teste, só para ver se tu sentias alguma coisa, só para ver se tu alguma vez tinhas sentido o que eu sentia.
- O que tu sentias? Já não sentes nada? – Perguntou o Mário, um pouco triste com aquela revelação.
- Sim Mário, o que eu sentia. Já te disse que uma paixão sem frutos não dura para sempre, e eu esperei tempo demais, por algo impossível. Mas não estou chateada contigo, não posso obrigar ninguém a sentir o que não sente.
- Bem parece que já falaste por ti e por mim, se já não sentes nada não há nada também para dizer. Se quiseres ir trabalhar ainda vais a tempo. – Interveio o Mário, visivelmente chateado.
- E tu? Não vens?
- Não eu vou aproveitar e dar uma volta pela praia.
- Posso ir contigo. – Arriscou a Ana ao ver que o amigo por qualquer motivo não estava muito bem. – Pareces-me esquisito de repente, estás bem?
- Não eu prefiro ir sozinho, e não te preocupes eu estou bem. – Disse ele depois de se levantar e de se dirigir á porta.
A Ana seguiu-o:
- Estás? De certeza? È que não parece, foi alguma coisa que eu disse?
- Sabes que mais, sim foi uma coisa que tu disseste. Ontem disseste que estavas apaixonada por mim, hoje já não estás. Mas tu decides-te ou nem por isso? As pessoas não são um brinquedo, com o qual tu brincas Ana, elas têm sentimentos, e se esperavas dizer-me que estavas apaixonada por mim e achavas que eu ia ficar impávido e sereno estavas enganada. Eu importo-me Ana, eu importo-me contigo. – Disse o Mário, á beira de explodir.
- Mário, eu não digo que tu não te importas comigo, eu sei que sim. Mas também sei que para ti eu não passo de uma amiga. E já que isso, eu, não posso mudar, não vou ficar a cortar os pulsos para sempre. Eu menti-te á pouco, é obvio que estou a sofrer, mas tu não precisavas de saber isso. Não pensei que o facto de não mostrar o que estou a sentir te ofendesse tanto, mas pelos vistos enganei-me, e já que é assim desculpa.
- Estás desculpada. Sabes esse é o teu problema, nunca dizes o que estás verdadeiramente a sentir. – E dizendo isto abriu a porta para sair.
- Vais embora? Não achas que a nossa conversa ainda não terminou? Dizes que eu nunca digo o que estou a sentir, e tu? Dizes?
- Digo.
- Ai sim? E o que é que estás a sentir agora?
- Estou a sentir… - depois de pensar um pouco continuou – estou a sentir-me magoado. Sim acho que é isso, estou magoado.
- Magoado? O que? Comigo? – Perguntou ela perplexa.
- Não Ana com o vizinho do 3º esquerdo. Claro que é contigo.
- Porquê? O que é que eu fiz? – Perguntava a Ana ainda sem acreditar no que estava a ouvir. Realmente não compreendia o que tinha feito para o amigo estar magoado com ela.
- Pensas que podes chegar ao pé de uma pessoa e dizeres-lhe que a amas sem lhe dares hipótese de ela dizer o que sente por ti. Sabes, tu podes amar-me, mas tens medo que eu te ame a ti. Amar é deixar que nos amem a nós também. Sabes porque é que não me disseste que estavas apaixonada mais cedo? Porque tinhas medo que eu sentisse o mesmo. Porque se eu sentisse o mesmo tu não sabias o que fazer, como reagir. Tens a vida toda planeada de uma certa maneira, e qualquer coisa que estrague a seu ciclo normal, tu tentas eliminar, evitar que aconteça. Aliás, acho que só me disseste aquilo porque estavas bêbeda. É por isso que eu estou magoado, porque eu também te amo, porque sempre te amei, mas tu nunca permitis-te que eu entrasse na tua vida. Porque tu sempre evitas-te qualquer manifestação de carinho mais intimo…
Não, isto não estava a acontecer, pensava a Ana. O que é que ela ia fazer agora? Ela nunca esperou ouvir aquilo, e além disso tudo o que ele tinha dito era verdade. Ele estava a ir embora para casa, não podia deixar que isso acontecesse, tinha que dizer qualquer coisa, correu atrás dele, mas não foi a tempo, ele já tinha entrado e fechado a porta atrás de si. Ainda o chamou, mas ele não respondeu. Agora era ele que tinha que ouvir o que ela tinha para dizer. Mas não podia começar aos gritos no meio do corredor. A chave, era isso, claro. Ela tinha uma chave de casa dele. Foi busca-la, enfiou a chave na fechadura, mas deteve-se por momentos. Não, não podia entrar assim em casa do Mário. Não tinha esse direito. Mas por outro lado, precisava tanto de falar com ele. Bateu á porta mais uma vez:
- Mário, preciso falar contigo. Vá lá, por favor abre a porta. Mário…Por favor…Mário…Não vou, sair daqui enquanto não abrires a porta. Algum dia, vais ter que sair. Vou ficar aqui sentada á espera que tu saias para podermos conversar. Bem mas se vais sair para trabalhar deixa-me avisar que eu não vou deixar-te ir sem antes falares comigo.
De facto esperou, esperou várias horas, já era hora de ir trabalhar e ainda estava ali sentada, não tinha almoçado nem nada. O Mário não saia, e ela começava a ficar preocupada. Não era normal. Ele nunca faltava ao trabalho, e não era por causa dela estar ali fora, á espera dele, que ele ia faltar, a Ana sabia-o. Ele estaria bem? Podia ter-lhe acontecido alguma coisa. Decidiu entrar dentro de casa, mesmo sabendo que o Mário não ia gostar daquela invasão.
Procurou-o por toda a parte e nada, e então lembrou-se, a escada de incêndio, claro. Ele tinha descido pela escada de incêndio, para a evitar. Não adiantava esperar que ele voltasse do trabalho, porque ele certamente ia usar outra vez a escada para entrar em casa.
Voltou então para sua casa e telefonou para a empresa a pedir desculpa por ter faltado e sem sequer avisar, disse que não se estava a sentir muito bem, provavelmente estaria doente, aproveitou e tirou o dia seguinte também já que tinha muitos dias de ferias para gozar. Preparou qualquer coisa para comer, tomou um banho e deitou-se em cima da cama. Um turbilhão de pensamentos depressa lhe assolou a mente. Queria resolver o que se tinha acabado de passar, mas não podia obrigar o Mário a ouvir o que ela tinha para dizer.
O tempo passou bem devagar, e quando chegou a hora de o Daniel e o Mário regressarem do trabalho ela foi pôr-se a espreitar pelo ferrolho da porta para ver se vinham os dois juntos. Nas não, o Daniel chegou sozinho. Certamente o Mário teria subido pelas escadas de incêndio. Pelos vistos ele não queria mesmo ouvir o que ela tinha a dizer. Mas já que não queria ouvir, ao menos podia ler. Ia escrever-lhe uma carta e pô-la debaixo da porta.

Como não querias falar comigo, tive que arranjar outra forma de comunicação. Por isso estou a escrever esta carta.
Sabes, tu tens razão em tudo o que disseste, eu tenho medo, tenho medo de deixar que me amem, porque tenho medo de sofrer, sofrer por alguém que não merece o meu amor. Também sei que tu mereces o meu amor, e muito mais. Mas ao contrário do que seria de prever, isso não diminui o meu medo. A coragem nunca foi mesmo o meu forte. Disseste que eu nunca dizia o que estava a sentir, pois vou dizer-te o que estou a sentir agora. Estou triste, muito triste, porque deixei fugir a única pessoa que queria realmente deixar amar-me. Não espero que me desculpes, ou qualquer tipo de compreensão da tua parte. Espero, apenas que continuemos amigos como dantes. Vemo-nos sexta ao jantar. É em tua casa não é? Não sei é se me vais abrir a porta.
Depois de escrever a carta, pegou nas chaves e num casaco, saiu de casa, dobrou a carta, pô-la debaixo da porta de casa do Mário, tocou á campainha, mas não esperou que alguém viesse abrir a porta. Foi embora, desceu as escadas e foi um pouco até á praia, ver as ondas a rebentar, e o barulho que elas faziam acalmavam-nas sempre, ficou ali sentada a noite inteira, e só voltou para casa quando achou que os rapazes já tinham ido para o trabalho. Mas ao subir as escadas, viu que eles ainda estavam á espera dela, aliás o Daniel tinha entrado em casa dela para a procurar. Queria fugir, para que eles não a vissem, mas era tarde demais, eles já tinham visto, e agora o Daniel corria para ela:
- Ana, estás bem? Estava aflito, tu nunca fazes isto.
- Estou, estou bem. – Respondeu com os olhos fixos no Mário. – Só quero ir deitar-me.
- Não vais trabalhar? – Perguntou o Mário, friamente.
- Não. – Retorquiu a Ana com a mesma frieza.
- Onde é que estiveste. – Voltou a perguntar o Mário
- Por ai. – E quando acabou de dizer isto dirigiu-se a casa.
- Se estás á espera que tenhamos pena de ti estás muito enganada. – Disse o Mário
- Não espero isso, aliás, não quero que ninguém tenha pena de mim. Até porque não há motivos para isso. – Entrou em casa e fechou a porta. Aquela frieza da parte do Mário partia-lhe o coração, e assim que ficou sozinha as lágrimas escorregaram pelas suas faces. O bilhete não servira de nada. Era a vida. Não se ia chatear mais por causa disso. Ia dormir, tomar um banho, comer qualquer coisa e depois ia ás compras. Ia comprar roupa, só para mostrar ao Mário que aquela história não a tinha afectado. Ia mostrar-se mais radiosa e feliz que nunca. Estava decidida.
Então assim fez, depois de dormir bastante, tomou um bom banho, comeu e foi para o centro comercial, entrou em montes de lojas, comprou montes de sapatos, roupas, e acessórios também. Chegou a casa, precisamente á hora que eles chegaram do emprego, e o Daniel vendo-a tão carregada, apresou-se a ajudá-la.
- Bem, compras-te o centro comercial inteiro?
- Não, só algumas roupinhas.
- Ui, deve ser, deve. E vens muito bem disposta. Gosto de te ver assim, sim senhor.
- Obrigado.
- Amanhã já vais trabalhar?
- Vou, vou. Ajuda-me aqui a por isto tudo no quarto se faz favor. – Pediu a Ana.
- Ajudo, Mário não entras connosco? – Mas quando se viraram para olhar o Mário já lá não estava. – O que é que se passa com vocês? – Perguntou o Daniel.
- Oh, eu disse-lhe o que sentia e ele disse-me o que sentia, mas não correu bem. Porque ao que parece tenho medo de ser amada…É a vidinha.

Nos dias que se seguiram, a Ana mostrou-se sempre bastante alegre, apesar do Mário, não lhe dirigir quase palavra nenhuma. A verdade é que aquilo estava a destruí-la, mas não queria mostrar isso. Precisava desesperadamente de sair do Algarve, mas tinha de trabalhar, isto ia ser muito complicado, ainda por cima era sexta-feira, e não sabia o que fazer, não sabia se ia jantar com eles ou não. De certeza que o Mário não queria recebe-la em sua casa. Bem mas quando chegasse a hora de jantar logo se via. Agora tinha que se concentrar no trabalho.
O dia parecia não começar a correr muito bem, assim que chegou á empresa chamaram-na ao gabinete do chefe. Sabia que não tinha feito nada de mal, mas ser chamado ao gabinete do chefe, nunca parecia ser um bom sinal. Ele quereria despedi-la?
De facto estava tão nervosa que assim que se encontrou cara a cara com o chefe a primeira coisa que fez foi perguntar se ia ser despedida.
- Bom dia Dra., não me diga que está com medo de ser despedida. Não se aflija, não foi por isso que a chamei aqui. O motivo é outro. Sem mais rodeios é o seguinte, você, vai para casa, vai fazer a sua mala, e vai para o aeroporto, porque vai para o Brasil, durante um mês. Vai haver lá uma reunião de todas as sucursais da empresa e a Dra. Ana vai representar a do Algarve.
- Ai sim? Que bom. E há alguma coisa que deva saber ou assim?
- Não, toda a documentação que precisar é-lhe fornecida lá.
- Pronto, então, obrigado pela confiança. Vou só despedir-me dos meus amigos e vou fazer as malas.
- Boa viagem Dra.
- Obrigado.
Que bom, esta viagem era mesmo o que estava a precisar. Tinha que despedir-se do Daniel, telefonar para casa, e fazer as malas. Então e o Mário. Não lhe apetecia vê-lo. Bem, telefonava-lhe quando chegasse ao aeroporto.
As duas horas seguintes foram uma correria, foi ter com o Daniel, despediu-se dele, telefonou para a família a despedir-se também, fez as malas, foi para o aeroporto, fez o check-in, e já estava na sala de embarque quando se lembrou de telefonar. Marcou o número, carregou no verde, e encostou o telemóvel ao ouvido, mas quando levantou a cabeça e olho em frente…
- Não ias despedir-te de mim?
- Ia, estava agora a telefonar-te. – E de facto o telemóvel do Mário vibrava-lhe no bolso.
- Só isso, um telefonema?
- Para quem mal fala para mim de há uns dias para cá, parece-me chegar perfeitamente. Aliás, pensei que nem sequer te fosse importar muito o facto de eu viajar, ou de ficar em Portugal. Até parece que sou invisível…E tu, o que é que estás aqui a fazer?
- Também vou viajar.
- Ai sim, bom para ti. – Disse a Ana friamente.
- Não me perguntas para onde?
- Para onde? – Perguntou a Ana com um certo ar cínico.
- Exactamente para o mesmo sitio que tu. Também vou representar a empresa. E adivinha só: além de ficar no mesmo hotel que tu, vou ficar no mesmo quarto. Parece que vais ter que me aturar durante o próximo mês.
- Não pode ser. – Admirou-se a Ana.
- Pode, pode.
- Vou telefonar imediatamente para o chefe.
- Então telefona, não vai mudar nada, mas tu é que sabes.
- Ai não. Tanto que tu sabes. Posso recusar-me a ir.
- Pois podes, mas tu não queres fazer isso, por isso senta-te, e espera que nos chamem para embarcar. Tens que fazer sempre a tua birrinha.
Aquilo irritou-a, que estúpido, julgava-se o dono da verdade. Mas sentou-se, e esperou. A voz que os chamaria para embarcar, parecia nunca mais surgir, e finalmente quando surgiu, trouxe mais uma desagradável surpresa, o Mário tinha o lugar ao lado do seu, o que queria dizer, que além de ter que dormir no mesmo quarto que ele, também teria que se sentar ao lado dele durante a viajem. Ia ser super divertida e animada de certeza, iam fartar-se de falar, definitivamente.
O lugar dele ficava ao pé da janela, e como a Ana queria ver a paisagem pediu ao Mário para trocar de lugar com ela, pedido ao qual ele não acedeu, embora aquilo a tivesse chateado ela empenhou-se por não o demonstrar. Ele queria, provocá-la, mas não ia conseguir. A Ana ainda tentou olhar pela janela, mas quando o Mário se apercebeu que ela estava a olhar fechou-a, mas mais uma vez a Ana agiu super calmamente e desviou a sua atenção para outro lado.
Ao seu lado, estava sentado um rapaz muito atraente, que na primeira oportunidade meteu conversa com ela, e então, sabendo que ia irritar o Mário, conversou com o rapaz, falaram de muita coisa, e quando ele estava a tentar explicitamente engatar a Ana, o Mário, aborreceu-se e foi até á casa de banho.
A viagem acabou, e á saída do aeroporto, a Ana distraiu-se a despedir-se do rapaz do avião, e o Mário meteu-se num táxi sem dizer nada. O pior é que era ele quem tinha a morada do hotel e a Ana totalmente perdida começou a ficar muito aflita. Só ao fim de alguns minutos quando começou a raciocinar, é que se lembrou de telefonar ao chefe a pedir todas as informações necessárias. E ao fim de uma hora já estava no hotel.
As más surpresas pareciam não acabar, quando chegou ao quarto verificou que a cama em que iam dormir era de casal. Ou seja além do quarto teria que partilhar a cama com o Mário.
Mas mais uma vez, não se ia deixar afectar por esta série de acontecimentos. Arrumou calmamente as roupas, leu os papéis que lhe tinham dado á entrada e verificou que ia haver um jantar de gala nessa noite, para dar as boas vindas a todos os convidados. Isso animou-a logo, ia vestir o seu vestido mais bonito, e de facto já estava a arranjar-se para jantar quando o Mário entrou no quarto.
- Eu sei que partilhamos o quarto, mas sinceramente, acho que não sou obrigado a ver-te passear em lingerie.
- Temos pena, este quarto também é meu. E se não queres ver-me nua tenta, assim, bater á porta de vez em quando, não sei, mas pode ajudar, digo eu.
- Eu não tenho que bater á porta para entrar no quarto, eu entro quando quero e bem me apetece… – Mas a Ana já não estava e ouvir, tirou o soutien, a cinta, as ligas, as cuecas, e dirigiu-se para o banho.
O Mário nem acreditava no que tinha acabado de ver. A Ana despira-se á frente dele. Não podia ser. Se calhar ele estava a ir longe demais, estava a provoca-la demasiado, mas acima de tudo não devia ter fingido deixa-la no aeroporto sozinha, quase tivera para aparecer, quando, escondido atrás da coluna, viu, a Ana entrar em pânico, e viu as lágrimas a correrem-lhe pela cara abaixo.
Ele acusava-a de fazer birras, e de ser criança, mas agora era ele quem estava a agir como um miúdo pequeno. Tinha que para com aquilo, aliás ia falar com a Ana e pedir desculpa pelo seu comportamento.
Esperou que ela saísse do banho, e vendo-a surgir embrulhada no roupão de banho, começou por dizer:
- Desculpa, desculpa por tudo isto, estou a ser um parvo, estou a reagir como um miúdo pequeno. – E abraçando-a, continuou, – Eu li o teu bilhete, mas estava demasiado magoado com tudo o que se passou para reagir, e depois quando dei por mim, mal falava para ti e tratava-te mal. Na noite que, passas-te fora de casa, eu ainda te fui procurar a casa para falarmos do bilhete, mas tu não estavas. Esperei por ti á porta de casa, mas nada, não vieste dormir a casa. Fiquei louco de ciúmes, pensei que estivesses com alguém, fiquei á tua espera toda a noite. Quando chegaste e nem disseste onde tinhas estado, fiquei mais furioso, e á tarde vi-te chegar novamente a casa cheia de sacos e super feliz. Fiquei super convencido que tinhas encontrado alguém, não conseguia compreender como é que tinhas encontrado alguém tão depressa, e me tinhas deixado para trás.
- Estás desculpado. Mas como é que podes-te pensar uma coisa dessa? Eu passei a noite na praia, sozinha. E quando, falas-te tão mal para mim, de manhã, partiste-me o coração. Então eu decidi, ir ás compras e parecer o mais feliz possível, só para te mostrar que não me importava. – Disse ela. – Mas agora já está tudo esclarecido e podemos ser amigos como antes não é?
- É… amigos como antes! – Embora tivesse concordado em permanecer só amigo da Ana, não era isso que o Mário queria, definitivamente. Mas não ia começar outra discussão não ali, nem depois de todos os últimos acontecimentos.

Grandes Portugueses

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No passado domingo (1/04/2007), assistimos a um episódio do “Diz que é uma Espécie de Magazine” totalmente voltado para a crítica ao facto dos telespectadores da RTP terem elegido Salazar como o “Grande Português” de todos os tempos. Peço perdão, mas acho que estou a cometer uma imprecisão, afinal o programa não foi totalmente dedicado á crítica pela vitória de Salazar, os “Tesourinhos Deprimentes”, e um sketch, não se referiam a este assunto, ao que parece bem mais polémico do que aquilo que eu inicialmente pensei.
Não percebi, o motivo de tanto gozo á volta do assunto. Eu não fiquei contente, com a vitória de Salazar, é claro que não fiquei, afinal a extrema-direita, não encaixa de todo nas minhas crenças politicas, preferia que tivesse ganho Álvaro Cunhal. Mas até que ponto, é que aquela votação é representativa da opinião de toda a população?
Não sei se me faço entender, mas há vários factores a ter em conta quando pensamos neste concurso e nas pessoas que votariam nele.
Bem, em primeiro lugar, todas as emissões do concurso foram transmitidas na RTP 1, em Domingos, se não estou em erro. Posso estar enganada, mas acho que a maioria dos Portugueses achou, os programas que davam á mesma hora, nas outras estações televisivas bem mais interessantes. E nem sequer preciso de ir muito longe para perceber isso. Quando, no dia da eleição perguntei ao meu pai quem achava que ia ganhar, ele nem sabia quem eram as figuras que estavam em jogo.
Tenho pena, mas receio que ainda haja uma boa parte da população que não está assim tão atenta aos programas transmitidos pela RTP, e prefere dedicar toda a sua atenção apenas a um canal, como a TVI, e a todos os seus programas, embora eles possam apresentar um nível cultural bastante reduzido, e com isto refiro-me em concreto ao programa “A Bela e o Mestre”, mas disso falarei noutra ocasião.
Voltando aos “Grandes Portugueses”, a votação, para a escolha entre um dos dez finalistas foi feita por telefone. Haveria assim tantas pessoas dispostas a gastar 0,60€ para votar neste concurso? Quanto a mim a resposta é obvia…
Isto é só a minha opinião, mas as pessoas que votaram neste concurso encaixam-se em três categorias: a extrema-direita (que votou em peso), alguns comunistas fanáticos por Álvaro Cunhal, e uma pequena parte da população, parte essa que é mais esclarecida e intelectualmente superior e consequentemente, percebeu a importância de votar noutras figuras que não Cunhal ou Salazar.
Certamente se a população fosse inquirida de outra maneira, teríamos uma agradável surpresa e D. Afonso Henriques ganharia a eleição. Mas tal como alguém disse Salazar nunca perdeu uma eleição, e assim como no tempo de Salazar, a maior parte dos votantes eram os seus apoiantes, o pelo menos das suas politicas, a única diferença é que desta vez houve oposição.
Não é preciso ser um génio para tirar estas conclusões em relação ao programa, todos nos percebemos isto logo á partida, por isso para mim, é totalmente incompreensível tanto alarido á volta disto, principalmente quando são os Gato a dedicar um programa inteiro ao assunto, sinceramente esperava muito mais do programa. Assuntos muito mais importantes como a emigração dos portugueses para Espanha, a universidade independente, o falso diploma de Sócrates, ou a irresponsabilidade dos jovens finalistas pareciam-me ser escolhas mais interesantes para eventuais criticas. Mas mais uma vez é só uma opinião.

Nana