terça-feira, 10 de abril de 2007

A pedido de muitas famílias, Capitulo I – Continuação

Ao outro dia, quando a Ana acordou, sentia-se como se um camião lhe tivesse passado por cima. Tinha uma dor tão forte no coração que só lhe apetecia morrer, afinal aquele amor de tantos anos tinha conhecido o seu derradeiro final.
Ao longo de anos, a Ana não perdeu a esperança de conquistar o amor do Mário, mas a noite passada tinha apagado todas as ilusões que ela tinha em relação a isso, e tinha dado lugar á dor, á dor insuportável.
Mas a vida continuava e também ela tinha que fazer um esforço e continuar, sem duvida era necessário continuar, e então, de repente, com uma força vinda das profundezas do seu ser, levantou-se para ir trabalhar.
Tomou o pequeno-almoço, tomou banho, vestiu-se, e estava pronta para sair quando alguém tocou á sua campainha. Surpreendida lá abriu a porta e surpreendeu-se ainda mais quando percebeu que era o Mário quem tinha tocado.
- Bolas, eu já ia sair, não era preciso teres tocado. Mas o que é que se passa, nem sequer estamos atrasados e o Daniel também ainda não saiu. – Disse a Ana de imediato.
- O Daniel já foi para a empresa. Eu disse para ele ir sem nos, porque queria falar contigo a sós…
- Está bem mas falamos depois, agora temos que ir trabalhar. – Interrompeu-o a Ana.
- Era o que eu ia explicar se não me tivesses interrompido. Eu telefonei para a empresa e disse que nos os dois não íamos de manhã. – Concluiu o Mário.
- Fizeste o que? Eu não acredito, não sei se já reparas-te, mas eu levantei-me cedo para ir trabalhar porque só por acaso o dinheiro não cai do céu e eu preciso de trabalhar para comer, para pagar a prestação da casa e por ai fora. Por isso o que quer que tenhas para falar comigo pode esperar até logo á noite quando eu não tiver que trabalhar. – E dirigiu-se para a porta dizendo ainda – Quando saíres fecha a porta está bem.
Mas o Mário agarrou-lhe o braço e disse:
- Ana por favor, desde que começamos a trabalhar nem tu nem eu tivemos um dia de férias, por isso, não vai ser só por uma manhã que o gato vai ás filhós. Vai para a sala e senta-te que eu vou fazer um chá e buscar umas bolachas para nós. Não digas que não por favor. Precisamos mesmo de falar.
Dito isto a Ana lá acedeu e foi sentar-se, ao fim de alguns minutos o Mário juntou-se a ela e começou:
- A noite de ontem foi um pouco estranha, não vou dizer que não sabia o que sentias, mas não estava á espera que o dissesse daquela maneira… – Mas a Ana interrompeu-o
- Á é por causa disso que querias tanto falar comigo. Oh Mário, esquece o que aconteceu ontem á noite, a sério, esquece que eu também já esqueci. Faz de conta que não aconteceu nada. A sério não te moas com isso.
- Mas eu não quero esquecer. – Retorquiu o Mário, para surpresa da Ana.
- Mário, não há stress, amigos como dantes a sério, não estou chateada, nem magoada, nem nada do que se pareça…
-Mas… – Tentou interromper o Mário.
- Espera deixa-me acabar. – Pediu, a Ana. – Tu sabes que uma paixão sem frutos não dura para sempre, e já há muito tempo que o que eu sinto por ti, não tem a mesma intensidade de antes. E ontem á noite…ontem á noite não passou de um teste, só para ver se tu sentias alguma coisa, só para ver se tu alguma vez tinhas sentido o que eu sentia.
- O que tu sentias? Já não sentes nada? – Perguntou o Mário, um pouco triste com aquela revelação.
- Sim Mário, o que eu sentia. Já te disse que uma paixão sem frutos não dura para sempre, e eu esperei tempo demais, por algo impossível. Mas não estou chateada contigo, não posso obrigar ninguém a sentir o que não sente.
- Bem parece que já falaste por ti e por mim, se já não sentes nada não há nada também para dizer. Se quiseres ir trabalhar ainda vais a tempo. – Interveio o Mário, visivelmente chateado.
- E tu? Não vens?
- Não eu vou aproveitar e dar uma volta pela praia.
- Posso ir contigo. – Arriscou a Ana ao ver que o amigo por qualquer motivo não estava muito bem. – Pareces-me esquisito de repente, estás bem?
- Não eu prefiro ir sozinho, e não te preocupes eu estou bem. – Disse ele depois de se levantar e de se dirigir á porta.
A Ana seguiu-o:
- Estás? De certeza? È que não parece, foi alguma coisa que eu disse?
- Sabes que mais, sim foi uma coisa que tu disseste. Ontem disseste que estavas apaixonada por mim, hoje já não estás. Mas tu decides-te ou nem por isso? As pessoas não são um brinquedo, com o qual tu brincas Ana, elas têm sentimentos, e se esperavas dizer-me que estavas apaixonada por mim e achavas que eu ia ficar impávido e sereno estavas enganada. Eu importo-me Ana, eu importo-me contigo. – Disse o Mário, á beira de explodir.
- Mário, eu não digo que tu não te importas comigo, eu sei que sim. Mas também sei que para ti eu não passo de uma amiga. E já que isso, eu, não posso mudar, não vou ficar a cortar os pulsos para sempre. Eu menti-te á pouco, é obvio que estou a sofrer, mas tu não precisavas de saber isso. Não pensei que o facto de não mostrar o que estou a sentir te ofendesse tanto, mas pelos vistos enganei-me, e já que é assim desculpa.
- Estás desculpada. Sabes esse é o teu problema, nunca dizes o que estás verdadeiramente a sentir. – E dizendo isto abriu a porta para sair.
- Vais embora? Não achas que a nossa conversa ainda não terminou? Dizes que eu nunca digo o que estou a sentir, e tu? Dizes?
- Digo.
- Ai sim? E o que é que estás a sentir agora?
- Estou a sentir… - depois de pensar um pouco continuou – estou a sentir-me magoado. Sim acho que é isso, estou magoado.
- Magoado? O que? Comigo? – Perguntou ela perplexa.
- Não Ana com o vizinho do 3º esquerdo. Claro que é contigo.
- Porquê? O que é que eu fiz? – Perguntava a Ana ainda sem acreditar no que estava a ouvir. Realmente não compreendia o que tinha feito para o amigo estar magoado com ela.
- Pensas que podes chegar ao pé de uma pessoa e dizeres-lhe que a amas sem lhe dares hipótese de ela dizer o que sente por ti. Sabes, tu podes amar-me, mas tens medo que eu te ame a ti. Amar é deixar que nos amem a nós também. Sabes porque é que não me disseste que estavas apaixonada mais cedo? Porque tinhas medo que eu sentisse o mesmo. Porque se eu sentisse o mesmo tu não sabias o que fazer, como reagir. Tens a vida toda planeada de uma certa maneira, e qualquer coisa que estrague a seu ciclo normal, tu tentas eliminar, evitar que aconteça. Aliás, acho que só me disseste aquilo porque estavas bêbeda. É por isso que eu estou magoado, porque eu também te amo, porque sempre te amei, mas tu nunca permitis-te que eu entrasse na tua vida. Porque tu sempre evitas-te qualquer manifestação de carinho mais intimo…
Não, isto não estava a acontecer, pensava a Ana. O que é que ela ia fazer agora? Ela nunca esperou ouvir aquilo, e além disso tudo o que ele tinha dito era verdade. Ele estava a ir embora para casa, não podia deixar que isso acontecesse, tinha que dizer qualquer coisa, correu atrás dele, mas não foi a tempo, ele já tinha entrado e fechado a porta atrás de si. Ainda o chamou, mas ele não respondeu. Agora era ele que tinha que ouvir o que ela tinha para dizer. Mas não podia começar aos gritos no meio do corredor. A chave, era isso, claro. Ela tinha uma chave de casa dele. Foi busca-la, enfiou a chave na fechadura, mas deteve-se por momentos. Não, não podia entrar assim em casa do Mário. Não tinha esse direito. Mas por outro lado, precisava tanto de falar com ele. Bateu á porta mais uma vez:
- Mário, preciso falar contigo. Vá lá, por favor abre a porta. Mário…Por favor…Mário…Não vou, sair daqui enquanto não abrires a porta. Algum dia, vais ter que sair. Vou ficar aqui sentada á espera que tu saias para podermos conversar. Bem mas se vais sair para trabalhar deixa-me avisar que eu não vou deixar-te ir sem antes falares comigo.
De facto esperou, esperou várias horas, já era hora de ir trabalhar e ainda estava ali sentada, não tinha almoçado nem nada. O Mário não saia, e ela começava a ficar preocupada. Não era normal. Ele nunca faltava ao trabalho, e não era por causa dela estar ali fora, á espera dele, que ele ia faltar, a Ana sabia-o. Ele estaria bem? Podia ter-lhe acontecido alguma coisa. Decidiu entrar dentro de casa, mesmo sabendo que o Mário não ia gostar daquela invasão.
Procurou-o por toda a parte e nada, e então lembrou-se, a escada de incêndio, claro. Ele tinha descido pela escada de incêndio, para a evitar. Não adiantava esperar que ele voltasse do trabalho, porque ele certamente ia usar outra vez a escada para entrar em casa.
Voltou então para sua casa e telefonou para a empresa a pedir desculpa por ter faltado e sem sequer avisar, disse que não se estava a sentir muito bem, provavelmente estaria doente, aproveitou e tirou o dia seguinte também já que tinha muitos dias de ferias para gozar. Preparou qualquer coisa para comer, tomou um banho e deitou-se em cima da cama. Um turbilhão de pensamentos depressa lhe assolou a mente. Queria resolver o que se tinha acabado de passar, mas não podia obrigar o Mário a ouvir o que ela tinha para dizer.
O tempo passou bem devagar, e quando chegou a hora de o Daniel e o Mário regressarem do trabalho ela foi pôr-se a espreitar pelo ferrolho da porta para ver se vinham os dois juntos. Nas não, o Daniel chegou sozinho. Certamente o Mário teria subido pelas escadas de incêndio. Pelos vistos ele não queria mesmo ouvir o que ela tinha a dizer. Mas já que não queria ouvir, ao menos podia ler. Ia escrever-lhe uma carta e pô-la debaixo da porta.

Como não querias falar comigo, tive que arranjar outra forma de comunicação. Por isso estou a escrever esta carta.
Sabes, tu tens razão em tudo o que disseste, eu tenho medo, tenho medo de deixar que me amem, porque tenho medo de sofrer, sofrer por alguém que não merece o meu amor. Também sei que tu mereces o meu amor, e muito mais. Mas ao contrário do que seria de prever, isso não diminui o meu medo. A coragem nunca foi mesmo o meu forte. Disseste que eu nunca dizia o que estava a sentir, pois vou dizer-te o que estou a sentir agora. Estou triste, muito triste, porque deixei fugir a única pessoa que queria realmente deixar amar-me. Não espero que me desculpes, ou qualquer tipo de compreensão da tua parte. Espero, apenas que continuemos amigos como dantes. Vemo-nos sexta ao jantar. É em tua casa não é? Não sei é se me vais abrir a porta.
Depois de escrever a carta, pegou nas chaves e num casaco, saiu de casa, dobrou a carta, pô-la debaixo da porta de casa do Mário, tocou á campainha, mas não esperou que alguém viesse abrir a porta. Foi embora, desceu as escadas e foi um pouco até á praia, ver as ondas a rebentar, e o barulho que elas faziam acalmavam-nas sempre, ficou ali sentada a noite inteira, e só voltou para casa quando achou que os rapazes já tinham ido para o trabalho. Mas ao subir as escadas, viu que eles ainda estavam á espera dela, aliás o Daniel tinha entrado em casa dela para a procurar. Queria fugir, para que eles não a vissem, mas era tarde demais, eles já tinham visto, e agora o Daniel corria para ela:
- Ana, estás bem? Estava aflito, tu nunca fazes isto.
- Estou, estou bem. – Respondeu com os olhos fixos no Mário. – Só quero ir deitar-me.
- Não vais trabalhar? – Perguntou o Mário, friamente.
- Não. – Retorquiu a Ana com a mesma frieza.
- Onde é que estiveste. – Voltou a perguntar o Mário
- Por ai. – E quando acabou de dizer isto dirigiu-se a casa.
- Se estás á espera que tenhamos pena de ti estás muito enganada. – Disse o Mário
- Não espero isso, aliás, não quero que ninguém tenha pena de mim. Até porque não há motivos para isso. – Entrou em casa e fechou a porta. Aquela frieza da parte do Mário partia-lhe o coração, e assim que ficou sozinha as lágrimas escorregaram pelas suas faces. O bilhete não servira de nada. Era a vida. Não se ia chatear mais por causa disso. Ia dormir, tomar um banho, comer qualquer coisa e depois ia ás compras. Ia comprar roupa, só para mostrar ao Mário que aquela história não a tinha afectado. Ia mostrar-se mais radiosa e feliz que nunca. Estava decidida.
Então assim fez, depois de dormir bastante, tomou um bom banho, comeu e foi para o centro comercial, entrou em montes de lojas, comprou montes de sapatos, roupas, e acessórios também. Chegou a casa, precisamente á hora que eles chegaram do emprego, e o Daniel vendo-a tão carregada, apresou-se a ajudá-la.
- Bem, compras-te o centro comercial inteiro?
- Não, só algumas roupinhas.
- Ui, deve ser, deve. E vens muito bem disposta. Gosto de te ver assim, sim senhor.
- Obrigado.
- Amanhã já vais trabalhar?
- Vou, vou. Ajuda-me aqui a por isto tudo no quarto se faz favor. – Pediu a Ana.
- Ajudo, Mário não entras connosco? – Mas quando se viraram para olhar o Mário já lá não estava. – O que é que se passa com vocês? – Perguntou o Daniel.
- Oh, eu disse-lhe o que sentia e ele disse-me o que sentia, mas não correu bem. Porque ao que parece tenho medo de ser amada…É a vidinha.

Nos dias que se seguiram, a Ana mostrou-se sempre bastante alegre, apesar do Mário, não lhe dirigir quase palavra nenhuma. A verdade é que aquilo estava a destruí-la, mas não queria mostrar isso. Precisava desesperadamente de sair do Algarve, mas tinha de trabalhar, isto ia ser muito complicado, ainda por cima era sexta-feira, e não sabia o que fazer, não sabia se ia jantar com eles ou não. De certeza que o Mário não queria recebe-la em sua casa. Bem mas quando chegasse a hora de jantar logo se via. Agora tinha que se concentrar no trabalho.
O dia parecia não começar a correr muito bem, assim que chegou á empresa chamaram-na ao gabinete do chefe. Sabia que não tinha feito nada de mal, mas ser chamado ao gabinete do chefe, nunca parecia ser um bom sinal. Ele quereria despedi-la?
De facto estava tão nervosa que assim que se encontrou cara a cara com o chefe a primeira coisa que fez foi perguntar se ia ser despedida.
- Bom dia Dra., não me diga que está com medo de ser despedida. Não se aflija, não foi por isso que a chamei aqui. O motivo é outro. Sem mais rodeios é o seguinte, você, vai para casa, vai fazer a sua mala, e vai para o aeroporto, porque vai para o Brasil, durante um mês. Vai haver lá uma reunião de todas as sucursais da empresa e a Dra. Ana vai representar a do Algarve.
- Ai sim? Que bom. E há alguma coisa que deva saber ou assim?
- Não, toda a documentação que precisar é-lhe fornecida lá.
- Pronto, então, obrigado pela confiança. Vou só despedir-me dos meus amigos e vou fazer as malas.
- Boa viagem Dra.
- Obrigado.
Que bom, esta viagem era mesmo o que estava a precisar. Tinha que despedir-se do Daniel, telefonar para casa, e fazer as malas. Então e o Mário. Não lhe apetecia vê-lo. Bem, telefonava-lhe quando chegasse ao aeroporto.
As duas horas seguintes foram uma correria, foi ter com o Daniel, despediu-se dele, telefonou para a família a despedir-se também, fez as malas, foi para o aeroporto, fez o check-in, e já estava na sala de embarque quando se lembrou de telefonar. Marcou o número, carregou no verde, e encostou o telemóvel ao ouvido, mas quando levantou a cabeça e olho em frente…
- Não ias despedir-te de mim?
- Ia, estava agora a telefonar-te. – E de facto o telemóvel do Mário vibrava-lhe no bolso.
- Só isso, um telefonema?
- Para quem mal fala para mim de há uns dias para cá, parece-me chegar perfeitamente. Aliás, pensei que nem sequer te fosse importar muito o facto de eu viajar, ou de ficar em Portugal. Até parece que sou invisível…E tu, o que é que estás aqui a fazer?
- Também vou viajar.
- Ai sim, bom para ti. – Disse a Ana friamente.
- Não me perguntas para onde?
- Para onde? – Perguntou a Ana com um certo ar cínico.
- Exactamente para o mesmo sitio que tu. Também vou representar a empresa. E adivinha só: além de ficar no mesmo hotel que tu, vou ficar no mesmo quarto. Parece que vais ter que me aturar durante o próximo mês.
- Não pode ser. – Admirou-se a Ana.
- Pode, pode.
- Vou telefonar imediatamente para o chefe.
- Então telefona, não vai mudar nada, mas tu é que sabes.
- Ai não. Tanto que tu sabes. Posso recusar-me a ir.
- Pois podes, mas tu não queres fazer isso, por isso senta-te, e espera que nos chamem para embarcar. Tens que fazer sempre a tua birrinha.
Aquilo irritou-a, que estúpido, julgava-se o dono da verdade. Mas sentou-se, e esperou. A voz que os chamaria para embarcar, parecia nunca mais surgir, e finalmente quando surgiu, trouxe mais uma desagradável surpresa, o Mário tinha o lugar ao lado do seu, o que queria dizer, que além de ter que dormir no mesmo quarto que ele, também teria que se sentar ao lado dele durante a viajem. Ia ser super divertida e animada de certeza, iam fartar-se de falar, definitivamente.
O lugar dele ficava ao pé da janela, e como a Ana queria ver a paisagem pediu ao Mário para trocar de lugar com ela, pedido ao qual ele não acedeu, embora aquilo a tivesse chateado ela empenhou-se por não o demonstrar. Ele queria, provocá-la, mas não ia conseguir. A Ana ainda tentou olhar pela janela, mas quando o Mário se apercebeu que ela estava a olhar fechou-a, mas mais uma vez a Ana agiu super calmamente e desviou a sua atenção para outro lado.
Ao seu lado, estava sentado um rapaz muito atraente, que na primeira oportunidade meteu conversa com ela, e então, sabendo que ia irritar o Mário, conversou com o rapaz, falaram de muita coisa, e quando ele estava a tentar explicitamente engatar a Ana, o Mário, aborreceu-se e foi até á casa de banho.
A viagem acabou, e á saída do aeroporto, a Ana distraiu-se a despedir-se do rapaz do avião, e o Mário meteu-se num táxi sem dizer nada. O pior é que era ele quem tinha a morada do hotel e a Ana totalmente perdida começou a ficar muito aflita. Só ao fim de alguns minutos quando começou a raciocinar, é que se lembrou de telefonar ao chefe a pedir todas as informações necessárias. E ao fim de uma hora já estava no hotel.
As más surpresas pareciam não acabar, quando chegou ao quarto verificou que a cama em que iam dormir era de casal. Ou seja além do quarto teria que partilhar a cama com o Mário.
Mas mais uma vez, não se ia deixar afectar por esta série de acontecimentos. Arrumou calmamente as roupas, leu os papéis que lhe tinham dado á entrada e verificou que ia haver um jantar de gala nessa noite, para dar as boas vindas a todos os convidados. Isso animou-a logo, ia vestir o seu vestido mais bonito, e de facto já estava a arranjar-se para jantar quando o Mário entrou no quarto.
- Eu sei que partilhamos o quarto, mas sinceramente, acho que não sou obrigado a ver-te passear em lingerie.
- Temos pena, este quarto também é meu. E se não queres ver-me nua tenta, assim, bater á porta de vez em quando, não sei, mas pode ajudar, digo eu.
- Eu não tenho que bater á porta para entrar no quarto, eu entro quando quero e bem me apetece… – Mas a Ana já não estava e ouvir, tirou o soutien, a cinta, as ligas, as cuecas, e dirigiu-se para o banho.
O Mário nem acreditava no que tinha acabado de ver. A Ana despira-se á frente dele. Não podia ser. Se calhar ele estava a ir longe demais, estava a provoca-la demasiado, mas acima de tudo não devia ter fingido deixa-la no aeroporto sozinha, quase tivera para aparecer, quando, escondido atrás da coluna, viu, a Ana entrar em pânico, e viu as lágrimas a correrem-lhe pela cara abaixo.
Ele acusava-a de fazer birras, e de ser criança, mas agora era ele quem estava a agir como um miúdo pequeno. Tinha que para com aquilo, aliás ia falar com a Ana e pedir desculpa pelo seu comportamento.
Esperou que ela saísse do banho, e vendo-a surgir embrulhada no roupão de banho, começou por dizer:
- Desculpa, desculpa por tudo isto, estou a ser um parvo, estou a reagir como um miúdo pequeno. – E abraçando-a, continuou, – Eu li o teu bilhete, mas estava demasiado magoado com tudo o que se passou para reagir, e depois quando dei por mim, mal falava para ti e tratava-te mal. Na noite que, passas-te fora de casa, eu ainda te fui procurar a casa para falarmos do bilhete, mas tu não estavas. Esperei por ti á porta de casa, mas nada, não vieste dormir a casa. Fiquei louco de ciúmes, pensei que estivesses com alguém, fiquei á tua espera toda a noite. Quando chegaste e nem disseste onde tinhas estado, fiquei mais furioso, e á tarde vi-te chegar novamente a casa cheia de sacos e super feliz. Fiquei super convencido que tinhas encontrado alguém, não conseguia compreender como é que tinhas encontrado alguém tão depressa, e me tinhas deixado para trás.
- Estás desculpado. Mas como é que podes-te pensar uma coisa dessa? Eu passei a noite na praia, sozinha. E quando, falas-te tão mal para mim, de manhã, partiste-me o coração. Então eu decidi, ir ás compras e parecer o mais feliz possível, só para te mostrar que não me importava. – Disse ela. – Mas agora já está tudo esclarecido e podemos ser amigos como antes não é?
- É… amigos como antes! – Embora tivesse concordado em permanecer só amigo da Ana, não era isso que o Mário queria, definitivamente. Mas não ia começar outra discussão não ali, nem depois de todos os últimos acontecimentos.

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