quinta-feira, 13 de março de 2008

Mar de Chamas

Estou tão cansada, sinto-me como se caminhasse por entre um mar de areia escaldante, que me queima os pés e a alma.
Tento lutar contra aquilo que sinto, aquilo que não sinto, contra aquilo que me rodeia, aquilo que me mata, aquilo que me consome.
Às vezes é tão difícil continuar a andar sobre a chama, queria parar, cair, levantar-me e andar de novo, até ao oásis, até ao tão aclamado oásis que teima em não acudir.
A miragem chega a ser uma cruel ilusão que me tortura a cada movimento, a cada passo a cada olhar, e que se desvanece assim que me aproximo.
Mal consigo levantar os pés para prosseguir a caminhada até… não sei até onde, até ao fim do infinito deserto escaldante, que me mata e me consome.
A minha alma tem sede, sede de água, sede de sangue, sede de vida, sede de lágrimas, sede de chuva, sede.
Olho em redor, não vejo ninguém, não consigo ver ninguém no que parecem ser quilómetros de chamas saídas das áridas paisagens deste deserto. Só vejo vermelho, vermelho de sangue, vermelho de ódio, de ódio, que sentimento feio, ódio, não conheço esse sentimento, ódio, nunca ninguém me ensinou o que era o ódio.
Não consigo sentir, a minha alma está demasiado cansada de sentir, ou de não sentir, não sei.
Olho para o céu, está tão escuro…um céu negro no meio de um deserto vermelho e escaldante, quero que chova, mas nem uma gota para acabar com a minha agonia, com a minha sede.
À minha frente caiu um raio, um raio prateado que penetrou na escaldante areia do deserto vermelho. Não me acertou por pouco, mas de repente, chuva, chuva vermelha, gotas de sangue vindas de um céu negro. Gotas abrasadoras que queimam a areia escaldante, e que me queimam a mim.
Dói, dói muito, sinto o corpo a arder, sinto a alma a arder, cada gota é uma pequena tortura, num mar de torturas maiores que me consomem.
De tanta dor já nem sinto nada, quero chorar mas as lágrimas não caiem, estão presas, tento arrancá-las dos meus olhos mas não caiem, puxo mas não caiem.
Caminho mais um pouco, com uma réstia de esperança de vislumbrar a saída do deserto infinito que teimo em percorrer, mas ela não aparece. Não vai aparecer. Quero alguém que me resgate desta pequena tortura pessoal, alguém que me ensine o caminho que leva ao fim do deserto, do infinito deserto que teimo em percorrer.
Não consigo sair sozinha, é tão longe a saída, já não tenho força para andar…quero alguém que me liberte desta prisão, deste inferno de Dante, do inferno de Dante que criei para mim.

Nana

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